sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Tudo é emprestado - até as pedras em que tropeçamos


Sabe? Tropeçar não é problema. Mas apegar-se à pobre da pedra… esse é O problema!

É o ego que nos faz apegar às coisas: gosto do meu carro, gosto da minha casa, gosto do meu emprego, gosto disto e daquilo, como se o facto de eu gostar lhes acrescentasse algum valor. E é também o ego que nos faz desgostar das mesmas coisas, na medida em que não gosto do meu carro porque sei que merecia muito mais do que o que tenho, porque se existe no mundo melhor, porque não para mim? Até aqui compreende-se, certo? Ou aceita-se, vá… 😏

E se eu substituir “coisas” por pessoas? Será difícil perceber que me apego a este(a) ou aquele(a) porque acho que me faz feliz, que me faz sentir bem?… E que deve ser por isso que é tão difícil gerir a rejeição, quando ela acontece? Ou a perda dos entes queridos, mesmo quando acreditamos que partiram para estar com Deus? Alguns até… como dizer? Alguns até por fim encontram um consolo enorme na ideia de que os que partiram ficam a velar pelos que ficaram, como se a eternidade – seja lá isso o que for – se possa resumir numa ideia tão egóica como permanecerem presos a esta coisa pequenina que somos nós? Nós?! 😇

E então se eu substituir “coisas”… por doenças? Hmmm… muito mais difícil!!! Normalmente as pessoas olham para mim com o ar desesperado de quem pensa “credo, a mulher é maluca! Que faço eu aqui?” quando eu lhes digo que para se curarem precisam desapegar-se do seu estado de doença. E, no entanto…

Há pessoas cujo único tema de conversa é a sua doença. Sim, chamam-lhe mesmo “sua”, alguns até a si próprios se tratam por doentes, enfatizando os seus handicaps até ao limite da paciência de quem os ouve. Querem atenção e julgam que a terão através das suas infelicidades. E esse é o problema: querem atenção – e só o ego quer uma coisa dessas. Eu costumo dizer “a porra do ego”, porque na verdade só o ego é capaz de preferir ver-nos doentes, desde que isso chame a atenção de alguém. A porra do ego. Pense nisso, que o ego é a pedra em que todos tropeçamos.


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