Há dias escrevi uma brincadeira a que dei este título, e agora achei que ele serve às mil maravilhas para este texto mais sério. Quem és, tu que me lês? O Romeiro que não percebe que nas voltas da vida perdeu (ou pode perder) o que nunca foi dele, ou o peregrino que procura o sentido dessa vida?
Desde
sempre que o ser humano se acha o centro do universo. Para uns fomos criados à
imagem e semelhança de Deus, para outros parecemos ser o único ser inteligente
e emotivo à face da terra, para outros ainda seremos apenas um ser racional que
pode pisar tudo e todos, sem obrigações morais ou éticas, e enfim, para outros
muitas outras coisas que agora não me acorrem…
Julgo que sou racionalista e que por isso procurei sempre encontrar
um sentido para a vida, um conceito que unisse a dualidade que mora no meu
peito. Quem sou? O corpo ou o espírito? O anjo ou o diabo? A que vive “Aqui e Agora” ou a que sonha na lua? A derrotista ou a resiliente?
Tenho
60 anos e posso facilmente olhar para trás e descortinar muitos marcos através
dos quais a vida me foi ensinando as minhas lições, aqueles momentos através
dos quais fui percebendo que tudo na
minha vida surgiu na hora certa, naquele momento em que eu, por estar mais
forte ou mais fraca, poderia entender a mensagem como ela se me apresentava. O que
fica disso tudo?
Vejamos: entre outras coisas tive bons empregos e até pude despedir-me e mudar várias vezes. Durante muitos anos beneficiei
de uma vida economicamente desafogada, construí um casarão, viajei e tive mais
do que aquilo que precisava. Tive amigos que perdi, tive marido e sogros, tive (e tenho) filhos, ajudei a criar e dirigir uma clínica, tirei um curso, sofri e fui feliz. E depois? Isso mudou a realidade do planeta? Fiz a diferença na vida de alguém?
É
verdade, nesta fase eu media a minha “importância” pelo que tinha e pelo
impacto que julgava ter na vida dos outros essa minha "importância". A pergunta é: E depois de perder
tudo isso, eu deixei de ser Eu?
Querem
uma resposta? Pois… depois de perder quase tudo descobri que eu continuo a ser
quase a mesma pessoa. Não perdi nada que me fizesse falta, isso é certo. E hoje meço a vida por quem sou… e bom, se calhar também ainda pelo impacto que posso ter na vida dos outros, é verdade que sim. Talvez apenas tenha mudado o tipo de impacto que pretendo ter? <3
O
meu trabalho é fazer terapias e ajudar as pessoas a conseguir o seu equilíbrio
físico e emocional, e evidentemente não posso fazê-lo ignorando o que tenho
aprendido, ignorando quem sou e o que quero ser, ignorando que quem vem ter
comigo vem porque em algum momento está preparado(a) para ouvir aquilo que tenho
para lhe dizer.
E o que tenho para dizer é sempre o mesmo: o nosso corpo não é quem nós somos, ele é apenas um veículo. Mas é um veículo inteligente que adoece para nos ensinar, para nos fazer pensar se as emoções que sentimos serão as melhores para nós. Sim, emoções e doenças vivem juntas. A boa notícia é que emoções e cura também vivem juntas.
Ligamos
quase sempre a doença a um corpo que pensamos não dominar, tal como depois ligamos a cura ao médico e aos
medicamentos. Ensinaram-nos isso, é cultural. Mas… será que essa é a única
forma de nos pensarmos?
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