domingo, 18 de setembro de 2016

Romeiro, Romeiro, quem és tu?

Há dias escrevi uma brincadeira a que dei este título, e agora achei que ele serve às mil maravilhas para este texto mais sério. Quem és, tu que me lês? O Romeiro que não percebe que nas voltas da vida perdeu (ou pode perder) o que nunca foi dele, ou o peregrino que procura o sentido dessa vida? 

Desde sempre que o ser humano se acha o centro do universo. Para uns fomos criados à imagem e semelhança de Deus, para outros parecemos ser o único ser inteligente e emotivo à face da terra, para outros ainda seremos apenas um ser racional que pode pisar tudo e todos, sem obrigações morais ou éticas, e enfim, para outros muitas outras coisas que agora não me acorrem…

Julgo que sou racionalista e que por isso procurei sempre encontrar um sentido para a vida, um conceito que unisse a dualidade que mora no meu peito. Quem sou? O corpo ou o espírito? O anjo ou o diabo? A que vive “Aqui e Agora” ou a que sonha na lua? A derrotista ou a resiliente?

Tenho 60 anos e posso facilmente olhar para trás e descortinar muitos marcos através dos quais a vida me foi ensinando as minhas lições, aqueles momentos através dos quais fui percebendo que tudo na minha vida surgiu na hora certa, naquele momento em que eu, por estar mais forte ou mais fraca, poderia entender a mensagem como ela se me apresentava. O que fica disso tudo?

Vejamos: entre outras coisas tive bons empregos e até pude despedir-me e mudar várias vezes. Durante muitos anos beneficiei de uma vida economicamente desafogada, construí um casarão, viajei e tive mais do que aquilo que precisava. Tive amigos que perdi, tive marido e sogros, tive (e tenho) filhos, ajudei a criar e dirigir uma clínica, tirei um curso, sofri e fui feliz. E depois? Isso mudou a realidade do planeta? Fiz a diferença na vida de alguém?

É verdade, nesta fase eu media a minha “importância” pelo que tinha e pelo impacto que julgava ter na vida dos outros essa minha "importância". A pergunta é: E depois de perder tudo isso, eu deixei de ser Eu?

Querem uma resposta? Pois… depois de perder quase tudo descobri que eu continuo a ser quase a mesma pessoa. Não perdi nada que me fizesse falta, isso é certo. E hoje meço a vida por quem sou… e bom, se calhar também ainda pelo impacto que posso ter na vida dos outros, é verdade que sim. Talvez apenas tenha mudado o tipo de impacto que pretendo ter? <3

O meu trabalho é fazer terapias e ajudar as pessoas a conseguir o seu equilíbrio físico e emocional, e evidentemente não posso fazê-lo ignorando o que tenho aprendido, ignorando quem sou e o que quero ser, ignorando que quem vem ter comigo vem porque em algum momento está preparado(a) para ouvir aquilo que tenho para lhe dizer.

E o que tenho para dizer é sempre o mesmo: o nosso corpo não é quem nós somos, ele é apenas um veículo. Mas é um veículo inteligente que adoece para nos ensinar, para nos fazer pensar se as emoções que sentimos serão as melhores para nós. Sim, emoções e doenças vivem juntas. A boa notícia é que emoções e cura também vivem juntas.

Ligamos quase sempre a doença a um corpo que pensamos não dominar, tal como depois ligamos a cura ao médico e aos medicamentos. Ensinaram-nos isso, é cultural. Mas… será que essa é a única forma de nos pensarmos?

Sem comentários:

Enviar um comentário